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Sentidos e Usos do Tempo em Narrativas Pataxó de Comexatibá: Entre imagens-vestígios e imagens-sinais, a “luta de índio”

Dados da Obra

Orientando: Vera Lúcia da Silva

Ano de produção: 2021

Idioma Original: Português

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Universidade Federal do Sul da Bahia

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Catalogação da Obra

Titulo, Subtitulo e indicação de responsabilidade: Vera Lúcia da Silva. Sentidos e Usos do Tempo em Narrativas Pataxó de Comexatibá: Entre imagens-vestígios e imagens-sinais, a "luta de índio". 2021. Tese (Doutorado em Estado e Sociedade) - Universidade Federal do Sul da Bahia, UFSB. Orientador: João Pacheco de Oliveira Filho.

Mini Currículo

Vera Lúcia da Silva é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estado e Sociedade da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) com bolsa FAPESB; mestra em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela Pontifícia Universidade Católica - PUCRio (bolsista CAPES); graduada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB. Além disso permaneceu por um ano para estudos na modalidade doutorado sanduíche na França, na instituição L' École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). Exerce atividade docente há mais de vinte e um anos e atualmente é professora de língua portuguesa no Centro Territorial de Educação Profissional do Extremo Sul - CETEPES, licenciada para estudos. Experiência docente no ensino superior: Faculdade Pitágoras de Teixeira de Freitas (2011-2015) e Universidade do Estado da Bahia - UNEB / Plano Nacional de Formação de Professores / Plataforma Freire (2014-2015). Atuação na área de formação docente através das Secretarias Municipal e Estadual de Educação, coordenação de projetos do Governo da Bahia ( TOPA, FACE, AVE, TAL, PROGESTÃO) sendo que no último, Projeto de Monitoramento, Acompanhamento, Avaliação e Intervenção Pedagógica - PAIP trabalhou junto às escolas da rede estadual, em especial, às escolas indígenas do município de Prado. Participa do coletivo de mulheres negras Dandaras, desenvolvendo atividades que visam à ampliação da entrada e permanência de grupos historicamente marginalizados na pós-graduação. Interesses de pesquisa: literaturas vernáculas e africanas, educação indígena, narrativas de tradição oral, leitura e produção de textos.

Resumo

O trabalho de tese ora apresentado tem os Pataxó da Terra Indígena (TI) Comexatibá, localizada no município de Prado (BA), como interlocutores e colaboradores. Embora a presença desse povo na região tenha sido amplamente descrita já no início do século XIX pelo viajante Maximiliano Maximiliano Wied-Neuwied, durante viagens que realizou entre 1815 e 1817, a luta pela retomada do território efetivamente só teve início a partir de 2000, no momento das comemorações oficiais dos 500 anos de Brasil. O reconhecimento só veio 15 anos depois, com a publicação do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID) em 27 de julho de 2015. Tendo como corpus central, especialmente as histórias de vida de mulheres pataxó, a pesquisa não pretendeu de forma alguma desvendar ordens de funcionamento de suas comunidades, nem encontrar estruturas fixas agindo por trás de cada pequeno gesto mostrado por elas, antes historicizá-las como ações de sujeitos individuais e coletivos, como fatos sociais inseridos em espaços e tempos mais ou menos delimitados, sem fugir do que há de conflituoso, problemático e contraditório nelas. Essa tarefa estará ancorada em uma breve reflexão sobre memória, a partir de Aleida Assmann (2011), Joel Candau (2005, 2018), Maurice Halbawacks (2003) e Pollack (1989) em que esta será tratada como construção individual e coletiva, como terreno de disputas fundamentais na luta pelo território. Além disso também serão fundamentais as discussões das categorias tempo/temporalidade feitas por Paul Ricoeur (2006, 2007 e 2012), Johannes Fabian (2013) e Walter Benjamin (2012, 2013), que, de modos singulares, convidam a pensar o passado, o presente e o futuro como lugares políticos de criatividade e produção. Outras categorias importantes, como cultura, identidade e tradição serão iluminadas desde o pensamento de João Pacheco de Oliveira (1998, 2004, 2009 e 2016), Georges Balandier (1976), Homi Bhabha (2014), Alban Bensa (2016, 2006), Ulf Hannerz (1997), Edward Said (1990) e Jean Bazin (2008). Então, com o apoio desse referencial, bem como de documentos recolhidos durante a trajetória de pesquisa, é que será realizada a análise nomeada aqui de etnografia das narrativas, considerando que elas materializam uma certa perspectiva de tempo através de enredos, informações e imagens que dão conta de eventos desqualificados, silenciados, apagados e esquecidos no violento processo de colonização, tornado aceitável na narrativa oficial do país. Importante ressaltar que essas histórias não são meras recordações ou fonte de entretenimento, pois estão articuladas a processos políticos de resistência e luta, sobretudo das relacionadas ao território. Destarte, a pesquisa busca compreender e explicar como os Pataxó da T.I. Comexatibá organizam narrativamente suas experiências no tempo (temporalidade) e, fazendo-o, constroem-se como povo indígena com direitos legítimos sobre um território herdado de seus antepassados. Dito de outro modo, é preciso saber que soluções narrativas encontraram através dos tempos e no tempo para construírem a si mesmos na difícil empreitada das retomadas territoriais e étnicas, onde suas identidades são constantemente postas em xeque. Como resposta provisória, será possível afirmar que contar é fundamental para as lutas em curso, mesmo que seja através de temporalidades descontínuas, que não se encaixem em nenhuma das perspectivas temporais consagradas.