Acervo
A difícil etnografia de uma tribo em mudanças
Dados da Obra
Autor(es): Pacheco de Oliveira, João
Editora: Periódicos UNB
Ano de produção: 1981
Idioma Original: Português
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Titulo, Subtitulo e indicação de responsabilidade: A difícil etnografia de uma tribo em mudanças. Anuário Antropológico, Rio de Janeiro, v. 79, p. 277-290, 1981.
Notas: v. 79, p. 277-290.
ISSN: 0102-4302
Resumo
Nas condições atuais da maior parte das tribos indígenas da Amazônia brasileira o padrão tradicional de descrição etnográfica está fadado ao fracasso. Os diferentes tópicos (meio físico, habitação, economia, organização social, rituais, mitologia, arte e religião) por meio dos quais o olhar do etnógrafo era preparado para registrar e sistematizar os aspectos relevantes da realidade observada constituem-se em uma rotina que guia o pesquisador atual em direções inteiramente falhas, tornando-o incapaz de oferecer explicações significativas sobre o modo de ser daquelas populações e seu destino histórico. Registrar, minuciosamente, os padrões de habitação, os adornos, a tecnologia, os ritos e crenças era de grande interesse e eficácia quando esses aspectos de sua cultura tornavam aquela população claramente distinta e separada de outros grupos humanos circunvizinhos. Mas não é possível persistir nesse tipo de análise quando o pesquisador tem à sua frente uma população que vive dentro de grandes propriedades rurais em condições similares à do seringueiro, do camponês, do vaqueiro e do peão, cuja força de trabalho está integrada à economia regional, cuja vida social e política está marcada pela submissão aos detentores de certos papéis e posições na sociedade brasileira. Em tais condições, a sua capacidade de reproduzir-se enquanto um tipo organizacional específico está inviabilizada, devendo, necessariamente, passar por determinações mais amplas, pelas ideologias e pelas práticas desenvolvidas por atores sociais e agências de contato. Não se trata mais, então, de apreender esse grupo humano como se fora uma sociedade distinta e autônoma, mas de apreendê-lo dentro de um processo histórico específico de expansão do capitalismo nas áreas rurais periféricas e de articulação e subordinação de suas atividades econômicas, políticas e sociais aos interesses e estratégias de outras categorias e classes sociais.