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Pluralizando tradições etnográficas: sobre um certo mal-estar na antropologia

Dados da Obra

Autor(es): Pacheco de Oliveira, João

Editora: Associação Brasileira de Antropologia

Ano de produção: 2004

Idioma Original: Português

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Associação Brasileira de Antropologia

Catalogação da Obra

Titulo, Subtitulo e indicação de responsabilidade: Pluralizando tradições etnográficas: sobre um certo mal-estar na antropologia. In: LANGDON, Esther Jean; GARNELO, Luiza. (Org.). Saúde dos povos indígenas: reflexões sobre antropologia participativa. 1 ed. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Associação Brasileira de Antropologia, 2004, v. , p. 09-32.

Notas: v. , p. 09-32. 196 p.

ISBN: 8586011827

Resumo

De tempos em tempos uma inquietação atravessa os campos da Antropologia, ameaçando com a perda das colheitas e de todas as criações. Fala-se repetidamente sobre uma crise vivida pela disciplina e discute-se com paixão sobre o seu futuro (alguns até chegam a anunciar o seu fim). Como no caso dos flagelos, são identificadas sobretudo causas muito genéricas, exteriores às práticas da disciplina, nas quais as auto-representações permanecem intocadas. Sem respostas novas que nos possibilitem protegermo-nos de tais hecatombes, cansados de um questionamento de pouca utilidade prática, com o tempo voltamos a nos surpreender modelando o barro com nossas próprias mãos, como sempre o fizéramos, construindo figuras e cenas que encantam a todos, mesmo quando muito distintas daquelas que fazíamos no passado. Logo nos esquecemos dos debates anteriores, avaliados como meramente corrosivos. Os argumentos vão para os arquivos e prateleiras, onde os iremos reencontrar anos depois, recobertos de poeira, enquanto continuamos a nos pensar da mesma forma que o fazíamos antes.

Eu gostaria aqui de sugerir uma outra linha de abordagem ao tema da crise da Antropologia, preferindo usar uma imagem que condensa registros e sensações difusas em uma expressão bastante fluida – “mal-estar”. Diferentemente da crise, o mal-estar não resultaria de fatores externos, mas de uma ameaça interior, de um temor difuso de que alguns comportamentos viessem a romper com o consenso estabelecido e conduzissem a uma quebra de unidade na disciplina. Na realidade retomo um termo comum na literatura antropológica – o de mal-estar (“malaise”), utilizado por alguns autores ilustres (Gluckman & Devons, 1964, Berreman, 1971, Scholte, 1971, entre outros) – como ponto de partida para um esforço crítico interno à disciplina, algo bastante distanciado do inesperado e do inevitável das hecatombes ou da superficialidade e circularidade das modas.