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“Todo mistério tem dono!”: ritual, política e tradição de conhecimento entre os Pankararu

Dados da Obra

Orientando: Claudia Mura

Ano de produção: 2012

Idioma Original: Português

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Catalogação da Obra

Titulo, Subtitulo e indicação de responsabilidade: Claudia Mura. "Todo mistério tem dono!": ritual, política e tradição de conhecimento entre os Pankararu. 2012. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: João Pacheco de Oliveira Filho.

Mini Currículo

Professora Associada da Universidade Federal de Alagoas. Possui graduação em Letras Modernas (departamento Demo-Etno-Antropológico) pela Universidade La Sapienza de Roma - Itália (2002), mestrado (2007) e doutorado (2012) em Antropologia Social pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência nas áreas de Etnologia Indígena, Antropologia dos Rituais e Antropologia do Conhecimento. É líder do Grupo de Pesquisa em Memória, Identidade e Território (GPMIT)/PPGAS/UFAL e integra o Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED)/PPGAS/Museu Nacional/UFRJ. Desenvolve pesquisa nas seguintes temáticas: relações interetnicas, processos políticos-rituais, colonialismo e tradições de conhecimento.

Resumo

Esta tese procura descrever e analisar a tradição de conhecimento, os processos rituais e os aspectos políticos a eles atrelados entre os índios Pankararu, localizados às margens do rio São Francisco, no estado de Pernambuco. Para este propósito, realizou-se uma etnografia que, deslocando o foco da experiência vinculada à construção da identidade étnica, concentrou-se nas experiências individuais e familiares que permitiram compreender a forma de os índios se organizarem social, ritual e politicamente. Com uma perspectiva teórica processualista, a etnografia permite mostrar que as unidades sociais e políticas (famílias extensas e troncos), cuja ênfase no sentimento de pertença é operativa na cotidianidade dos índios, são as principais protagonistas do forjamento da específica tradição de conhecimento, que se encontra em contínua mudança em virtude das circunstâncias de ordem histórica e política e da capacidade dos atores sociais de a elas se adaptarem. Pretende-se aqui um afastamento das abordagens que reiteram uma visão holística dos grupos sociais e, para tal propósito, procurou-se relevar as variações entre as articulações dos fluxos culturais que índios diversamente posicionados realizam dentro de uma figuração em constante tensão, no esforço de impor concepções cujos princípios encontram sua matriz antes ou depois do processo de territorialização. Foi necessário, então, compreender o que viabiliza as variações, analisando-se os circuitos e as performances rituais, bem como as formas de gerenciar o conhecimento. Constatou-se que a ausência de exegese e de uma ortodoxia divulgada pelos especialistas rituais, juntamente com a prática do segredo (elementos que delineiam a especificidade desta tradição de conhecimento), não apenas possibilitam uma grande variação de interpretações e performances de tais especialistas, como também se tornam o motor das mesmas dinâmicas sociais e políticas. A impossibilidade de instauração de uma autoridade política e religiosa centralizada e a característica segmentária do grupo étnico fazem com que famílias e troncos mobilizem os próprios recursos (humanos, econômicos e em termos de “mistérios”) para construir o próprio prestígio e adquirir poder político. Em circunstâncias favoráveis, unem todos esses recursos e mobilizam os aspectos emocionais vinculados à etnicidade, deflagrando assim sua força política.